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Albert Dinan, Ave Ninchi, Bernadette Lafont, Cinema, Cinema Francês, Claude Chabrol, Clotilde Joano, Drama, Jean-Louis Maury, Lucile Saint-Simon, Mario David, Nouvelle Vague, Sacha Briquet, Stéphane Audran
Jane (Bernadette Lafont), Jacqueline (Clotilde Joano), Ginette (Stéphane Audran) e Rita (Lucile Saint-Simon) são quatro amigas que trabalham juntas, e juntas sonham com uma vida de maior brilho e entusiasmo. Jane vive a noite com fulgor, e embora namorando um soldado, não evita escapadelas com outros homens. Ginette, mais reservada, tem uma paixão que mantém secreta das amigas, o canto. Rita namora Henri (Sacha Briquet), um moço rico, cujos pais vai ter que impressionar. Finalmente Jacqueline, a mais tímida e idealista das quatro, deixa-se fascinar pela omnipresença de um vulto que a parece perseguir pela noite, o misterioso motociclista (Mario David) que ela crê que a ame à distância.
Análise:
“As Boas Mulheres” foi o quarto filme de Claude Chabrol, um dos mais prolíficos realizadores da fase inicial da Nouvelle Vague, e mais um passo na sua experimentação pessoal com géneros e novas formas de os abordar. Por essa razão, o filme é difícil de encaixar dentro dos géneros estabelecidos, com um pouco de drama e comédia, temática feminista, coming-of-age, não deixando de fora a sátira à futilidade da pequena burguesia francesa dos anos 60, finalmente apimentado com um pouco de atmosfera de thriller.
O filme narra, de uma forma solta, e por vezes bastante elusiva, o dia a dia de quatro raparigas solteiras, que trabalham juntas numa loja que desprezam, e vêem como um meio necessário antes de entrarem na sua vida propriamente dita. Esta, claro, é ainda um sonho, para algumas mais concreto, para outras, no total domínio da fantasia.
As quatro raparigas são Jane (Bernadette Lafont), Jacqueline (Clotilde Joano), Ginette (Stéphane Audran), Rita (Lucile Saint-Simon), as quais têm abordagens bastante diferentes em relação ao seu quotidiano. Jane, a mais expansiva, vive a noite e tudo o que esta lhe oferece, não hesitando em dormir com outros homens, apesar de ter namorado na tropa. Ginette, mais reservada, dedica-se ao canto num teatro musical, sem que as amigas saibam. Rita é a única com namorado sério, o tímido Henri (Sacha Briquet), rapaz fino, e cuja maior preocupação é que Rita agrade aos seus pedantes pais. Finalmente Jacqueline, a mais solitária e idealista das quatro, evita relações, e incomoda-se com a atitude das amigas. É ela que nota que um estranho motociclista (Mario David) as segue, crendo que ele o faz por timidez, e deva estar apaixonado por ela.
Perante tal premissa, “As Boas Mulheres” desenrola-se como uma série de momentos que vão acontecendo às raparigas, quer no emprego, quer nas suas noitadas, onde frequentam bares, discotecas, passeiam pelo zoo ou vão parar numa piscina, e são amiúde perseguidas pelo par de playboys Marcel (Jean-Louis Maury) e Albert (Albert Dinan).
Com um forte uso de grandes planos, como se quisesse amplificar um certo grotesco da noite parisiense, Chabrol filma os excessos, os gritos, as ilusões, as mentiras, numa constante fuga para a frente em que todos os personagens parecem viver, cada um à sua maneira, alienando-se da sua realidade. Com maior ou menor objectividade, procurando prazeres mais imediatos (as buscas sexuais de Jane, Marcel ou Albert) ou ilusões a mais longo prazo (o casamento propenso a falhar de Rita, ou o romantismo de ilusão de Jacqueline) todos embarcam num escapismo diário, crítica a uma sociedade sem nada de concreto para oferecer.
Como uma espécie de estalada na cara, chega o acto final em que Jacqueline finalmente encontra o seu admirador (que chega como salvador à moda antiga, quando as raparigas eram importunadas), para logo se deixar levar num romance que está apenas na sua cabeça. O resultado trágico tem tanto de chocante e absurdo, como tem de esperado, numa sequência final que é ao mesmo tempo doce e inquietante.
Este final trágico, aliado à intrigante cena final, em que uma outra rapariga quebra a quarta parede olhando-nos enigmaticamente quando dança, provocou o descontentamento dos espectadores cuja reacção ao filme de Chabrol chegou a ser violenta.
Hoje “As Boas Mulheres” é citado como um exemplo da Nouvelle Vague, pela forma solta como explora os seus temas, pelo humor negro, pelo absurdo que encerra, e claro pelo modo como Chabrol filma a noite, sem encenação ou dramatismo, em planos quase documentais, como era imagem de marca do movimento.
Produção:
Título original: Les bonnes femmes [Título inglês: The Girls]; Produção: Paris Film / Panitalia; País: França/Itália; Ano: 1960; Duração: 92 minutos; Estreia: 22 de Abril de 1960 (França).
Equipa técnica:
Realização: Claude Chabrol; Produção: Robert Hakim, Raymond Hakim; Argumento: Paul Gégauff [segundo uma história de Claude Chabrol]; Música: Pierre Jansen, Paul Misraki; Fotografia: Henri Decaë [preto e branco]; Montagem: Jacques Gaillard; Direcção Artística: Jacques Mély; Caracterização: Louis Bonnemaison; Direcção de Produção: Ralph Baum.
Elenco:
Bernadette Lafont (Jane), Clotilde Joano (Jacqueline), Stéphane Audran (Ginette), Lucile Saint-Simon (Rita), Pierre Bertin (Monsieur Belin), Jean-Louis Maury (Marcel), Albert Dinan (Albert), Ave Ninchi (Madame Louise), Sacha Briquet (Henri), Mario David (André Lapierre), Claude Berri (Amigo de Jane), Jean Barclay, Rossana Rossanigo, Dolly Bell (A Stripper), Gabriel Gobin (O Pai de Henri), France Asselin (A Mãe de Henri).