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Magic FireA vida de Richard Wagner é-nos mostrada com narração do próprio compositor (Alan Badel), desde que tentou fazer nome em Paris em 1839, até ao seu triunfo sob o patrocínio de Luís II da Baviera (Gerhard Riedmann) a partir de 1862. Pelo meio acompanhamos os seus casamentos, com Minna Planer (Yvonne De Carlo) e com Cosima Liszt (Rita Gam), o seu envolvimento nas revoltas de 1849 em Dresden, a amizade com Franz Liszt (Carlos Thompson), o exílio em Paris e na Suíça, a paixão ilícita por Mathilde Wesendonk (Valentina Cortese), e as suas lutas contra as convenções artísticas do seu tempo para criar uma ópera diferente e uma identidade musical puramente germânica.

Análise:

A vida do celebre compositor alemão Richard Wagner (1813–1883) foi o tema de uma produção da independente Republic Pictures, uma produtora até então mais vocacionada para filmes de baixo custo. Existente desde os anos 30, a Republic Pictures especializara-se em Westerns e filmes de acção, principalmente filmes B, tendo lançado as carreiras de cowboys como Gene Autry e Roy Rogers. A produtora serviria ainda de distribuidora de John Ford, cimentando o nome de John Wayne, tendo produzido um filme de Orson Welles (MacBeth, 1948). Já nos anos 50 a Republic Pictures lançava-se em trabalhos mais ambiciosos, e a cores (fazendo uso de um processo mais barato conhecido como Trucolor), resultando, entre outros, no famosíssimo “Johnny Guitar” (1954) de Nicholas Ray, e neste “Fogo Mágico” de William Dieterle.

Para “Fogo Mágico” a Republic não se poupou a esforços, usando centenas de figurantes, interiores e vestuário opulento, e filmagens em cenários naturais, como foi o Teatro de Bayreuth, a Meca musical da música de Wagner. No entanto, entregue a um realizador de pouco nome, William Dieterle, e com a incapacidade de contar com actores conhecidos, o filme passaria ao lado do grande público.

Richard Wagner foi, para muitos, o maior génio criador de ópera de todos os tempos. Dedicando-se a grandes temas da mitologia alemã, o compositor teve como objectivo legar um cânon genuinamente germânico, de enaltecimento de um povo, sentimentos nobres e heróicos, e renascimento de uma nova civilização. A sua música quebrava com a ópera tradicional, que dominava Paris ou a Itália, culminante na obra do seu contemporâneo Giuseppe Verdi (curiosamente nunca citado no filme de Dieterle). Rejeitando as convenções de arias e recitativos, Wagner criava autênticas bandas sonoras no sentido moderno do termo, plenas de pujança, assentes na invenção do leitmotiv (tema recorrente que identifica certos personagens ou momentos). O fulgor e triunfalismo das suas óperas fazia muitos no seu tempo considerar que a música de Wagner era demasiado barulhenta. Mais tarde ela seria sinónimo de superioridade germânica, e até de anti-semitismo, em particular devido às posições tomadas pela sua esposa Cosima após a morte do compositor, e que fariam da música de Wagner um arauto do regime Nazi.

O filme centra-se sobre a personalidade polémica do compositor (Alan Badel), mostrando-nos como teimosamente procurava um lugar no mundo dos compositores, mesmo que para isso deixasse os empregos seguros como eram dirigir orquestras. O casamento com Minna Planer (Yvonne De Carlo), o seu envolvimento nas revoltas de 1849 em Dresden, a amizade com Franz Liszt (Carlos Thompson), o exílio em Paris e na Suíça, a paixão por Mathilde Wesendonk (Valentina Cortese), o regresso triunfante à Alemanha, sob o patrocínio de Luís II (Gerhard Riedmann) e o seu último casamento com Cosima Liszt (Rita Gam) são os principais acontecimentos narrados, e que balizam a carreira do compositor.

Sem actores que consigam dar uma maior vida ao filme, quase todos em interpretações muito bidimensionais, “Fogo Mágico” vale-se sobretudo da música de Wagner que, tal como numa das suas óperas, vai decorrendo quase ininterruptamente, pontuando momentos e ilustrando as várias fases da sua vida. A banda sonora, da responsabilidade do também compositor clássico e habitual colaborador da Warner, Erich Wolfgang Korngold, é por isso uma das mais valias do filme. Korngold teria aqui a sua última contribuição para cinema, e teria direito a um pequeno cameo, no papel do maestro Hans Richter, dirigindo (sem palavras) a orquestra.

Tentando dar uma descrição realista da vida tumultuosa de Richard Wagner, o filme de Dieterle peca por ser demasiado descritivo, preferindo narrar (seja em voz off, seja em diáologos introdutórios) os acontecimentos, que mostrá-los. Há excepções, em que a mais poderosa será porventura a recepção à ópera “Tannhauser” em Paris em 1861, e o episódio mais emocional terá sido o uso da relação ilícita com a sua mecenas, Mathilde Wesendonk, para explicar o tema de “Tristão e Isolda”. Mas no geral o filme decorre de modo pouco apaixonado, traindo, não só a vida de Wagner, como o investimento nele feito.

Por tudo isto, o filme não foi bem recebido pela crítica, tendo sido um fracasso de bilheteira, com estreias europeias (onde procurava um público mais favorável) a anteciparem-se à estreia nos Estados Unidos.

O filme conta ainda com a participação de Peter Cushing no pequeno papel de Otto Wesendonk, o marido traído de Mathilde.

Produção:

Título original: Magic Fire; Produção: Republic Pictures; Produtor Executivo: Herbert J. Yates; País: EUA; Ano: 1955; Duração: 94 minutos; Distribuição: Republic Pictures; Estreia: 30 de Junho de 1955 (França), 1 de Junho de 1956.

Equipa técnica:

Realização: William Dieterle; Produção: William Dieterle; Argumento: Bertita Harding, Ewald André Dupont, David T. Chantler [baseado no livro de Bertita Harding]; Música: Richard Wagner [adaptada por Erich Wolfgang Korngold]; Direcção de Orquestra: Alois Melichar; Fotografia: Ernest Haller [cor por Trucolor]; Direcção Artística: Robert Herlth; Montagem: Stanley E. Johnson; Figurinos: Ursula Maes; Coreografia: Tatjana Gsovsky; Encenação Operática: Rudolf Hartmann.

Elenco:

Yvonne De Carlo (Minna Planer), Carlos Thompson (Franz Liszt), Rita Gam (Cosima Liszt), Valentina Cortese (Mathilde Wesendonk), Alan Badel (Richard Wagner), Peter Cushing (Otto Wesendonk), Frederick Valk (Ministro von Moll), Gerhard Riedmann (Rei Luís II da Baviera), Erik Schumann (Hans von Bulow), Robert Freitag (August Roeckel), Heinz Klingenberg (Rei da Saxónia), Charles Regnier (Giacomo Meyerbeer), Fritz Rasp (Pfistermeister), Kurt Grosskurth (Director do Teatro de Magdeburg), Hans Quest (Robert Hubner), Jan Hendriks (Michael Bakunin).

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