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Cinema, David Lynch, Dean Stockwell, Everett McGill, Ficção Científica, Francesca Annis), Frank Herbert, Jürgen Prochnow, José Ferrer, Kenneth McMillan, Kyle MacLachlan, Max Von Sydow, Outros Mundos, Patrick Stewart, Paul L. Smith, Sean Young, Siân Phillips, Sting, Virginia Madsen
Sinopse:
Num futuro distante, a substância mais importante do universo é a especiaria obtida somente no planeta Arrakis. Este factor é ponto de conflito entre duas importantes famílias, os Harkonnen e os Atreides. Com a colocação da família Atreides no controlo de Arrakis, o Imperador (José Ferrer) tenta expô-los, enquanto em segredo conspira com o barão Harkonnen (Kenneth McMillan). Só que Paul Atreides (Kyle MacLachlan) o filho do duque Leto Atreides (Jürgen Prochnow) vai sentir uma estranha afinidade com o planeta, que se vai tornar uma jornada espiritual que o transformará em algo mais do que alguém poderia imaginar.
Análise:
Frank Herbert é um autor de ficção científica que ficou particularmente conhecido pela série de livros dedicados à saga de Dune, o nome do planeta onde decorrem as histórias de Paul Atreides e da sua família. Se bem que Herbert é famoso apenas por estes livros, não é menos verdade que eles constituiram um tal culto que o colocam como um dos mais importantes autores do género do século XX.
Seria, por isso, natural que a sétima arte tentasse adaptar a obra de Frank Hervert ao cinema. Tal foi tentado em vários momentos, com projectos nunca concluídos, de gente tão distinta quanto o surrealista Alejandro Jodorowsky, o criador de épicos clássicos David Lean, ou o celebrado realizador Ridley Scott, que teria na ficção científica alguns dos seus mais reputados filmes. Seria finalmente, sob a insistência de Dino De Laurentiis, que o projecto veria a luz do dia, com realização de David Lynch.
David Lynch, que para realizar “Duna” recusou a oferta para dirigir “O Regresso de Jedi” (The Return of the Jedi, 1983), considera, desde então, “Duna” o fime de que mais se envergonha. Por isso afastou-se completamente da obra, recusando participar nas reedições que o filme sofreu posteriormente, tendo inclusivamente chegado a apagar o seu nome dos créditos.
“Duna” é de facto um filme que se distingue da carreira de Lynch como um filme onde o seu modo narrativo e lógica surreal parece demasiado ausente, e marcado por uma montagem a muitas mãos, resultando numa obra muitas vezes incoerente. Mantêm-se, no entanto, um certo sentido de grotesco, e de mensagem subliminar, tão ao gosto do realizador, que dão alguma profundidade ao filme, desde então também ele um objecto de culto (não necessariamente para quem é fã de Frank Herbert).
“Duna” é a saga de Paul Atreides (Kyle MacLachlan), o jovem herdeiro do duque Leto (Jürgen Prochnow), que assiste à derrocada da sua família, quando o Imperador (José Ferrer) une esforços com a cruel família Harkonnen, liderada pelo vil barão (Kenneth McMillan). Mas essa derrocada é apenas o início de um caminho profetizado há muito por sacerdotizas, uma das quais é a própria mãe e protectora de Paul (Francesca Annis). A profecia leva-o ao deserto, que é o planeta Dune, torna-o hábil e reconhecido entre os seus habitantes, os Freman, e fá-lo capaz de dominar os incríveis vermes do deserto, usando-os como seus cavalos de batalha.
Com tal saga, “Duna” é um misto de muitas coisas, principalmente de referências fundamentais da humanidade, desde episódios bíblicos, a motivos da cultura greco-romana, ou temas orientais. É fácil reconhecer o aspecto messiânico da história, com Paul a ser um filho nascido quase por milagre, e que, depois da morte do pai, tem de passar provações no deserto para cumprir o seu destino. Não passa despercebido o ascetismo do seu novo povo, e o culto de uma transcendência que supera quaisquer bens materiais. Não fica de fora também a mensagem política, com Paul a tornar-se um líder, um libertador de homens e de modos de vida. Finalmente deve notar-se o enigmático uso da omnipotente especiaria (spice no original), alegoria para poder, relação com o transcendente ou simplesmente para drogas. O filme não é claro sobre isto, propositadamente.
“Duna” destaca-se pela sumptuosidade, por uma fotografia e decòrs quase góticos, e pelo grotesco trazido principalmente pela casa Harkonnen e seus afectados e efeminados representantes (Kenneth McMillan, Paul L. Smith e Sting). No entanto a necessidade de simplificar o universo de Herbert torna-o como que um esboço apenas, por vezes dilacerado com elipses que o tornam difícil de seguir. O filme foi ainda marcado por inúmeras tentativas de montagem, que levaram a um posterior refilmar de algumas cenas, bem como ao uso exagerado de vozes off a mostrarem-nos o pensamento dos personagens, e de uma longa introdução narrada por Virginia Madsen. Tudo isto contribuiu para um resultado final muito descaracterizado e algo confuso. Apesar de ter sido considerado um fracasso comercial, “Duna” foi o filme de Lynch com maior receita de bilheteira.
Em 1988 surgiu uma versão reeditada para TV, alargada com material original, perfazendo 190 minutos. David Lynch rejeitou esta versão como sua, surgindo nos nomes de realizador e argumentista, respectivamente os pseudónimos Alan Smithee e Judas Booth. Existe ainda uma versão especial editada em DVD com a versão original, de cerca de 177 minutos, também com muito material adicional e uma diferente montagem.
“Duna” foi a estreia cinematográfica de Kyle MacLachlan, um actor importante na obra de David Lynch.
Produção:
Título original: Dune; Produção: De Laurentiis; Produtor Executivo: Dino De Laurentiis; País: EUA; Ano: 1984; Duração: 136 minutos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia: 14 de Dezembro de 1984 (EUA), 23 de Agosto de 1985 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: David Lynch; Produção: Raffaella De Laurentiis; Argumento: David Lynch [a partir do livro de Frank Herbert]; Fotografia: Freddie Francis [filmado em Todd-AO, cor por Technicolor]; Design de Produção: Anthony Masters; Montagem: Antony Gibbs; Figurinos: Bob Ringwood; Música: Toto, Brian Eno; Efeitos Visuais: Albert J. Whitlock; Efeitos Fotográficos Especiais: Barry Nolan; Efeitos Mecânicos Especiais: Kit West; Criaturas: Carlo Rambaldi; Produtor Associado: José López Rodero; Caracterização: Luigi Rocchetti, Mario Scutti; Direcção Artística: Pier Luigi Basile, Benjamín Fernández; Cenários: Giorgio Desideri; Directores de Produção: Anuar Badin, Vicente Escrivá hijo, Anselmo Parrinello.
Elenco:
Francesca Annis (Lady Jessica), Leonardo Cimino (O Médico do Barão), Brad Dourif (Piter De Vries), José Ferrer (Imperador Shaddam IV), Linda Hunt (Shadout Mapes), Freddie Jones (Thufir Hawat), Richard Jordan (Duncan Idaho), Kyle MacLachlan (Paul Atreides), Virginia Madsen (Princesa Irulan), Silvana Mangano (Madre Reverenda Ramallo), Everett McGill (Stilgar), Kenneth McMillan (Barão Vladimir Harkonnen), Jack Nance (Nefud), Siân Phillips (Madre Reverenda Gaius Helen Mohiam), Jürgen Prochnow (Duque Leto Atreides), Paul L. Smith (A Besta Rabban), Patrick Stewart (Gurney Halleck), Sting (Feyd Rautha), Dean Stockwell (Doutor Wellington Yueh), Max von Sydow (Doutor Kynes), Alicia Witt (Alia), Sean Young (Chani), Danny Corkill (Orlop), Honorato Magaloni (Otheym), Judd Omen (Jamis), Molly Wryn (Harah).