Etiquetas

, , , , , , , , ,

Foreign CorrespondentNo mesmo ano de “Rebecca”, Hitchcock aproveitou a cedência de David O. Selznick, para realizar um filme para Walter Wanger nos Samuel Goldwyn Studios. Este seria um dos seus filmes preferidos, embora nem sempre citado pelos críticos entre os seus melhores. Ao mesmo tempo, era uma contribuição de Hitchcock para o esforço de guerra, num filme que não esconde o seu propósito propangadístico. Era ainda o regresso de Hitchcock às histórias de espionagem. Como protagonistas, os quase desconhecidos Joel McCrea e Laraine Day, devido às recusas das primeiras escolhas, Gary Cooper e Joan Fontaine. Herbert Marshall, George Sanders e Edmund Gwenn são três actores ingleses que aqui voltam a trabalhar com Hitchcock.

Sinopse:

John Jones (Joel McCrea), um jornalista conflituoso do New York Globe, é enviado para a Europa para conseguir reportagens sobre os bastidores das negociações que pretendem evitar o rebentar da guerra. Aí, após estabelecer contacto com Sephen Fisher (Herbert Marshall) e a sua filha Carol (Laraine Day), conhece o principal protagonista das negociações, o diplomata holandês Van Meer (Albert Bassermann), e assiste ao seu assassinato. Só que Jones percebe que muito mais se passa, ao perseguir os suspeitos e deparar com algo surpreendente. Com a ajuda de Carol e do seu amigo e também jornalista, ffolliott (George Sanders), Jones está disposto a tudo para conseguir a sua história.

Análise:

Ainda Alfred Hitchcock mal havia chegado aos Estados Unidos e a II Guerra Mundial rebentou na Europa. O seu primeiro filme foi “Rebeca” (1940) foi um estrondoso sucesso, mas Hitchcock, inglês, tinha o coração no velho continente, e viu com bons olhos pôr os seus serviços ao dispor do esforço de guerra. O primeiro trabalho a resultar dessa intenção foi o filme “Correspondente de Guerra”, cuja acção decorre nas vésperas da mesma, e repleto de mensagens sobre o papel dos Estados Unidos numa guerra onde ainda não tinha entrado.

Com uma intenção perfeitamente definida, Hitchcock, ao invés de fazer um filme de guerra (género que iria na década de 40 ganhar um fôlego inédito), preferiu fazer aquilo que melhor sabia, um filme de espionagem. Para tal reuniu-se com o argumentista de alguns dos seus maiores sucessos ingleses, Charles Bennett.

Em “Correspondente de Guerra”, John Jones (Joel McCrea), comicamente rebaptizado Huntley Haverstock, é um americano atirado para os meandros da diplomacia europeia, sem jeito para o meio, mas com faro de investigador para uma boa história. É esse faro que o faz testemunhar a morte de Van Meer (Albert Bassermann), perseguir os assassinos, e adivinhar o que estes preparam. Só que pelo meio, Jones apaixona-se por Carol Fisher (Laraine Day), o que não o deixa ver completamente o que se passa, passando a ter a sua vida em perigo.

Numa história tipicamente hitchcockiana, temos um enredo que faz os personagens viajar da Inglaterra à Holanda e de volta, entre o campo e as cidades, por viagens de avião e navio, e envolve uma perseguição de automóveis, quedas do cimo de torres, e um despenhar de um avião no oceano. A ideia do périplo com um herói insólito que, sem querer, vai descascando camada a camada de uma história que não esperava não é rara em Hitchcock. De facto os famosos “Os 39 Degraus” (The 39 Steps, 1935) e “Intriga Internacional” (North by Northwest, 1959) são dois dos exemplos mais citados do género, e perante os quais este “Correspondente de Guerra” tem tido um papel secundário. As sucessivas fugas do par inusitado encontram ainda eco em “Jovens e Inocentes” (Young and Innocent, 1937).

Embora não seja dos filmes mais frequentemente citados de Hitchcock, “Correspondente de Guerra” está ao nível dos seus melhores filmes de espionagem, e dele Hitchcock tinha bastante orgulho. Cheio de cenas emocionantes (algumas que fizeram história, como a queda do avião), um argumento que se move a ritmo acelerado, os célebres contragolpes, e claro, o humor constante em diálogos acutilantes. Faltar-lhe-á talvez uma estrela num papel principal para o filme ter hoje outra projecção.

Como sempre Hitchcock sabe o que o público quer, dando a sugestão de história de amor, com os suas habituais dificuldades, em partes iguais com o mistério e o perigo. Tudo sem deixar de nos lembrar que a sua é uma mensagem de paz e de alerta sobre a sombra que está a cair sobre o mundo, e de desconfiança sobre os políticos (note-se as frases pacifistas de tom poético de Van Meer). Presente também está o célebre MacGuffin, isto é o objecto da busca, que não chegamos a saber o que era. Neste caso vagas alusões a cláusulas de um tratado.

Mas não se veja no filme um exemplo simplista de luta entre o bem e o mal. Hitchcock faz questão de várias vezes dar a entender que os espiões inimigos usam métodos questionáveis, sim, mas por causas a que estão ligados emocionalmente. Por isso Carol Fisher nunca renegará o pai, que afinal até morre herói.

Uma visita de Hitchcock a Londres, já depois de terminar o filme, levou a reescrita do final, com a cena do bombardeamento durante uma transmissão radiofónica. O filme viria a estrear quase ao mesmo tempo que começavam os bombardeamentos nazis sobre Londes.

“Correspondente de Guerra” tornou-se um sucesso, e veio mesmo a ser nomeado para seis Oscars, não tendo ganho nenhum, sendo um deles o de Melhor Filme, perdido para “Rebecca”, também de Hitchcock.

Produção:

Título original: Foreign Correspondent; Produção: Walter Wanger Productions; País: EUA; Ano: 1940; Duração: 120 minutos; Distribuição: United Artists; Estreia: 16 de Agosto de 1940 (EUA), 29 de Abril de 1941 (Cinema S. Luiz, Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Alfred Hitchcock; Produção: Walter Wanger [não creditado]; Argumento: Charles Bennett, Joan Harrison, Ben Hecht [não creditado] [adaptado do livro de “Personal History” de Vincent Sheean]; Diálogos: James Hilton, Robert Benchley; Fotografia: Rudolph Maté [preto e branco]; Música: Alfred Newman; Direcção Artística: Alexander Golitzen; Design de Interiores: Julia Heron; Montagem: Dorothy Spencer; Caracterização: Norman Pringle [não creditado]; Efeitos Visuais: Paul Eagler.

Elenco:

Joel McCrea (John Jones), Laraine Day (Carol Fisher), Herbert Marshall (Stephen Fisher), George Sanders (ffolliott), Albert Bassermann (Van Meer), Robert Benchley (Stebbins), Edmund Gwenn (Rowley), Eduardo Ciannelli (Mr. Krug), Harry Davenport (Mr. Powers), Martin Kosleck (Vagabundo), Frances Carson (Mrs. Sprague), Ian Wolfe (Stiles), Charles Wagenheim (Assassino), Eddie Conrad (Letão), Charles Halton (Bradley), Barbara Pepper (Dorine), Emory Parnell (Capitão ‘Moicano’), Roy Gordon (Mr. Brood), Gertrude Hoffman (Mrs. Benson), Marten Lamont (Capitão), Barry Bernard (Steward), Holmes Herbert (Commissário Adjunto), Leonard Mudie (McKenna), John Burton (Locutor Inglês).