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Albert Husson, Aldo Ray, Basil Rathbone, Cinema, Comédia, Comédia Criminal, Familiar, Humphrey Bogart, Joan Bennett, Leo G. Carroll, Michael Curtiz, Natal, Peter Ustinov
Três prisioneiros (Humphrey Bogart, Peter Ustinov e Aldo Ray) fogem da prisão na Ilha do Diabo (colónia penal francesa no Atlântico Sul) em vésperas de Natal de 1895, e tentam misturar-se com os presos em liberdade condicional até conseguirem fugir da ilha. Para o conseguirem convencem Felix Ducotel (Leo G. Carroll) o dono de uma loja de utilidades, a dar-lhes emprego. O seu plano é roubar os utensílios necessários à fuga, e matar a família, mas aos poucos começam a simpatizar com a família Ducotel, ao ponto de não a quererem deixar sem a ajudar a resolver os seus problemas.
Análise:
Embora considerado um realizador de temas leves, de agrado do grande público, e por isso raramente surgindo nas listas de melhores realizadores elaboradas por críticos de cinema, é inegável que Michael Curtiz está ligado a algumas das obras mais fundamentais da história do cinema norte-americano. Basta lembrar “As Aventuras de Robin dos Bosques” (The Adventures of Robin Hood, 1938), “Anjos de Cara Negra” (Angels With Dirty Faces, 1938), “Casablanca” (Casablanca, 1942) e “Alma em Suplício” (Mildred Pierce, 1945). A estes filmes incontornáveis deverá juntar-se uma das mais deliciosas comédias de sempre: “Veneno de Cobra”.
“Veneno de Cobra” é a última das colaborações entre Michael Curtiz e Humphrey Bogart, que aqui troca os dramáticos papéis de clássico duro, por um ridicularizável duro de coração mole. E é no elenco que “Veneno de Cobra” começa desde os segundos iniciais a ditar os seus trunfos. Sendo uma espécie de comédia criminal, o filme (um argumento adaptado de uma peça teatral), emparceira Bogart com Aldo Ray e Peter Ustinov, três personalidades distintas, mas com uma química enorme, que com o seu tom grave transformam cada frase em fonte de gargalhadas.
O trio de criminosos procura apenas uma forma de escapar da infame Ilha do Diabo, tendo o azar (segundo as suas próprias palavras) de deparar com uma família de gente boa que os trata bem. Aparentando um cinismo próprio de criminosos, os três fugitivos demonstram um coração mole que nos desarma e diverte a cada momento.
Frases como “Amassamos-lhes as cabeças, arrancamos-lhes os olhos, cortamos-lhes os pescoços… assim que lavarmos a loiça.” são exemplo desse comportamento paradoxal que mostra o trio a ter cada vez mais carinho pela família que pretendiam assaltar. Esta, formada pelo bem intencionado e desastrado Felix Ducotel (Leo G. Carroll, num dos seus melhores papéis de sempre), a sensata Amélie Ducotel (Joan Bennett), e a inocente filha de ambos, Isabelle (Gloria Talbott), são presas fáceis de um mundo que não se compadece com bons corações nem boas intenções.
E se a bondade é ilustrada, não só nas formas desajeitadas como fugitivos e família se vão interligando, como por uma das mais bonitas e comoventes festas de Natal jamais filmadas, a maldade do mundo chega na forma de Andre Trochard (o vilão Basil Rathbone, igual a si próprio) e seu sobrinho Paul (John Baer), aprendiz de avarento. E quando algo aflige a família, a solução dos três anjos… ou bandidos, é a esperada: o crime. Mas até este surge de modo inesperado e cómico.
Com um elenco fabuloso (ver Bogart de avental cor-de-rosa é apenas um exemplo das surpresas que nos esperam) e diálogos inspiradíssimos, onde cada frase é uma obra de arte de comédia, o filme é uma história deliciosa de como um Natal pode ser completamente inesperado, e o bem pode vir de onde menos se espera.
Produção:
Título original: We’re No Angels; Produção: Paramount Pictures; País: EUA; Ano: 1955; Duração: 106 minutos; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia: 7 de Julho de 1955 (EUA), 22 de Dezembro de 1955 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Michael Curtiz; Produção: Pat Duggan; Argumento: Ranald MacDougall [baseado na peça “La Cuisine des Anges” de Albert Husson]; Música: Frederick Hollander; Fotografia: Loyal Griggs [filmado em VistaVision, cor por Technicolor]; Direcção Artística: Hal Pereira, Roland Anderson; Montagem: Arthur P. Schmidt; Efeitos Especiais: John P. Fulton; Cenários: Sam Comer, Grace Gregory; Figurinos: Mary Grant; Caracterização: Wally Westmore.
Elenco:
Humphrey Bogart (Joseph), Aldo Ray (Albert), Peter Ustinov (Jules), Joan Bennett (Amélie Ducotel), Basil Rathbone (Andre Trochard), Leo G. Carroll (Felix Ducotel), John Baer (Paul Trochard), Gloria Talbott (Isabelle Ducotel), Lea Penman (Madame Parole), John Smith (Oficial Médico Arnaud).