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Blue Jasmine“Blue Jasmine” é o regresso de Woody Allen a solo norte-americano, embora, desta feita, filmando em San Francisco. De novo trabalhando para a Sony, que o tem vindo a apoiar desde “Tudo Pode Dar Certo” de 2009, Allen construiu um filme em torno de Cate Blanchett, numa espécie de revisão do tema de “A Streetcar Named Desire”, a famosa peça de Tenessee Williams, já antes adaptada ao cinema. Alec Baldwin, Sally Hawkins, Bobby Cannavale e Peter Sarsgaard completam o elenco principal.

Sinopse:

Jasmine (Cate Blanchett) voa para San Francisco para viver com a irmã Ginger (Sally Hawkins), após ter perdido tudo com a descoberta das fraudes fiscais do marido Hal (Alec Baldwin), que entretanto se suicidou na cadeia. Habituada a uma vida de luxo e conforto, Jasmine vê-se forçada a viver numa casa, pobre rodeada por gente que despreza, e tendo que trabalhar para viver pela primeira vez. Dividida entre o mundo que deixou para trás e aquele que actualmente a sufoca, Jasmine alimenta o sonho de voltar à riqueza, dando por si a perder-se na ilusão daquilo que não tem, e menosprezando as pessoas à sua volta por não pertencerem ao mundo que ela antes conheceu.

Análise:

Com “Blue Jasmine” Woody Allen voltava a filmar nos Estados Unidos, embora, ao centrar o filme em San Francisco, para si possa ser sentido como estando ainda no estrangeiro, ele que confessadamente apenas se sente em casa em Nova Iorque. Como vinha acontecendo nos filmes anteriores, Allen escreveu-o a pensar na cidade que o acolheria. No caso de San Francisco, aquilo que decididamente veio à cabeça de Allen foi o filme de Elia Kazam “Um Eléctrico Chamado Desejo” (A Streetcar Named Desire, 1951), com Marlon Brando e Vivien Leigh, e baseado na peça do mesmo nome de Tennessee Williams.

Embora a história de “Blue Jasmine” seja original, sente-se nela muito do universo de Williams: personagens à beira do colapso nervoso, a tensão sexual latente, e o conflito familiar, acima de tudo. Mas onde a obra de Williams lida com uma tensão sexual que opõe como extremos uma masculinidade animal e brutal a uma feminilidade presa a convenções morais que lhe castram a espontaneidade, o filme de Allen traz novos opostos contrastantes. Estes são a sinceridade de quem tem vidas simples, mas prova estar presente em todas as dificuldades, e a aparência de quem vive vidas de luxo, sem significado nem emoções para quem tem à sua volta.

Assim, como uma nova Blanche DuBois, temos Jasmine (Cate Blanchett), que também se muda para casa da irmã, Ginger (Sally Hawkins, repescada do anterior “Cassandra’s Dream”), e se sente escandalizada com a tendência que esta tem de escolher namorados pobres e de modos rudes (primeiro Augie e depois Chili, Andrew Dice Clay e Bobby Cannavale, respectivamente) longe da classe social a que ela (Jasmine) está habituada.

Jasmine (numa interpretação absolutamente brilhante de Cate Blanchett, daquelas que definem uma carreira) vive entre dois mundos. O mundo do luxo, que ficou para trás devido à descoberta de que os negócios do seu marido milionário, Hal (Eric Baldwin), eram ilegais, e o mundo da pobreza da irmã e dos namorados desta, da cerveja barata, e gritos à volta da tv.

Jasmine (cujo nome foi mudado de Jeanette, para ter melhor aparência), está ainda presa entre um passado que revive na sua mente (ao ponto de falar sozinha na rua), e um presente que não consegue aceitar. Por fim, como se não bastasse, Jasmine divide-se ainda entre aquilo que é (uma pessoa instável, sem capacidade de ligações emocionais estáveis) e aquilo que na sua mente deve ser (uma mulher de classe, que defina modas e seja falada pelas festas e obras de caridade).

O filme é por isso, em grande parte, uma história de aparências (será influência da Califórnia, que Allen sempre chamou um mundo de aparência?), as quais levam inevitavelmente a um completo alheamento de Jasmine, que vive um filme na sua cabeça, não se ligando a ninguém, nem se compadecendo com nada do que vê à volta. Os exemplos são inúmeros, desde a senhora que Jasmine aborrece no avião, até à cena final, passando pela história ilusória que constrói para conquistar aquele (Peter Saarsgard) que apenas necessitava de um pouco de realidade.

Incapaz de perceber que quando critica a irmã, o faz por si própria, Jasmine, fruto dos anos que passou a ignorar a realidade (os negócios ilícitos e as traições do marido) perdeu já a capacidade de estar com alguém. Vive, por isso, um jogo de preconceitos e aparências, ignorando que, por vezes, quanto mais bem estabelecido socialmente está o personagem, menos humano ele aparenta ser.

Produção:

Título original: Blue Jasmine: Produção: Perdido Productions; Produtor Executivo: Leroy Schecter; Adam B. Stern; País: EUA; Ano: 2013; Duração: 98 minutos; Distribuição: Sony Pictures Classics; Estreia: 26 de Julho de 2013 (EUA), 12 de Setembro de 2013 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Woody Allen; Produção: Letty Aronson, Stephen Tenenbaum, Edward Walson; Argumento: Woody Allen; Co-Produção: Helen Robin; Fotografia: Javier Aguirresarobe; Design de Produção: Santo Loquasto; Montagem: Alisa Lepselter; Figurinos: Suzy Benzinger; Direcção Artística: Michael E. Goldman, Doug Huszti; Cenários: Kris Boxell, Regina Graves; Efeitos Especiais: Jake Braver; Caracterização: Gretchen Davis, Lori Hicks.

Elenco:

Alec Baldwin (Hal), Cate Blanchett (Jasmine), Louis C.K. (Al), Bobby Cannavale (Chili), Andrew Dice Clay (Augie), Sally Hawkins (Ginger), Peter Sarsgaard (Dwight), Michael Stuhlbarg (Dr. Flicker), Joy Carlin (Mulher no Avião), Richard Conti (Marido da Mulher no Avião), Glen Caspillo (Taxista), Charlie Tahan (Jovem Danny), Annie McNamara (Nora, Amiga de Jasmine), Daniel Jenks (Matthew), Max Rutherford (Johnny), Tammy Blanchard (Jane, Amiga de Jasmine), Kathy Tong (Raylene), Max Casella (Eddie), Ali Fedotowsky (Melanie), Dean Farwood (Professor de Computadores), Alden Ehrenreich (Danny), Conor Kellicut (Amigo de Chili), Colin Thomson (Amigo de Chili), Shannon Finn (Sharon, Amiga de Jasmine), Tom Kemp (Nat), Emily Hsu (Amy), Martin Cantu (Patrão de Ginger), Daniel Hepner (Empregado do Café), Al Palagonia (U.S. Marshall).

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