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The Night of the HunterSinopse:

O falso pregador Harry Powell (Robert Mitchum) vagueia pelas aldeias do interior, espalhando a sua mensagem de fanatismo religioso, e usando-a como embuste para sacar dinheiro aos crédulos. Ao ser preso por um roubo, Powell partilha a cela com Ben Harper (Peter Graves), que roubara um banco e escondera o dinheiro com os filhos John e Pearl, fazendo-os prometer nunca contarem a ninguém onde o dinheiro está.

Cumprida a sua pena, e após a morte de Harper, Powell procura a família deste, e casa com a viúva Willa (Shelley Winters), para ganhar acesso aos filhos desta. A partir daí joga-se um jogo de gato e do rato perante a determinação implcável de Powell e a lealdade inocente de John e Pearl.

Análise:

“A Sombra do Caçador” ficou essencialmente para a história pela figura única do pregador psicopata Harry Powell, interpretado por Robert Mitchum. Nunca nos é dado a perceber se Powell acredita verdadeiramente no que prega, ou se o faz como um papel para ludibriar os incautos. A verdade é Powell fala com Deus, mesmo quando está sozinho, e usa frases feitas, retiradas da bíblia para seu próprio proveito, sendo capaz de justificar uma morte, inocentando-se a si próprio, porque a vítima lhe mentiu, e mentir é pecado. Com uma interpretação exuberante e em vários momentos desconcertante, Mitchum surpreende pelos rumos dados ao seu personagem. Mas essa exuberância, por vezes cómica, nunca impede que a sua figura seja sentida como uma permanente ameaça, o que ele consegue pelos silêncios, a imponência da sua sombra (daí o título português) e o modo sinistro como se anuncia à distância com uma canção.

Por tudo isto “A Sombra do Caçador” é a figura de Robert Mitchum, cujo aspecto assustador é ainda mais realçado por nos ser dado a ver pelos olhos de duas crianças, John e Pearl, que estoicamente aguentam todo o crescente de ameaças até à fuga final. Pelos seus olhos, a história torna-se como que um conto de fadas, com tudo o que estes têm de simbolismo alegórico, sexual e onírico.

Tal como as palavras “Amor” e “Ódio”, escritas nas mãos de Powell, o filme é todo ele uma dicotomia entre bem e mal. O mal é representado por Harry Powell, e o bem por Rachel Cooper (a diva do cinema mudo Lillian Gish, que Laughton convenceu a regressar para este filme), que em jeito de prólogo dá o mote ao filme, e no seu terço final surge como protectora das crianças. A forma como lê a Bíblia e os ensinamentos que dá às crianças servem como contraponto ao mal que as leituras mal usadas de Powell podem causar. Vistos por este prisma Miss Cooper é a mão direita (o amor), e Harry Powell a esquerda (o ódio), num mundo onde todos os outros adultos parecem perdidos para o acaso, sem vontade própria (como o tio Birdie) ou capacidade de discernir entre bem e mal (como Wilma ou o casal Spoon). Quanto às crianças, podem ser vistas como uma alegoria da humanidade, presa entre tentações e sucessivas escolhas. E se os heróis da história (John e Pearl) escolhem o bem, aceitando pagar os mais duros sacrifícios e fugindo tenazmente de Powell, já a adolescente Ruby cede facilmente ao seu charme.

Com uma história de confronto clássico entre o bem e o mal, o inglês Laughton dirigiu um filme (o seu único) que escapa ao território clássico Noir, como aliás se começa a notar nos filmes deste período final do Noir. Deles resta aqui a fotografia, o uso da noite, o chiaroscuro, os enquadramentos, a centralidade do personagem negro, e o cinismo generalizado com que a espécie humana é tratada. Com planos medidos ao milímetro, como os interiores da casa dos Harper (confirmar nas perspectivas distorcidas e gestos grotescos de Powell em cenas como o assassinato de Willa, ou quando as crianças o conduzem à cave), alguns momentos são do mais expressionista que o cinema americanos nos deu, resultando num filme inquietante com um vilão sui generis e inesquecível.

Produção:

Título original: The Night of the Hunter; Produção: Paul Gregory Productions; País: EUA; Ano: 1955; Duração: 89 minutos; Distribuição: United Artists; Estreia: 26 de Julho de 1955 (EUA), 15 de Maio de 1963 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Charles Laughton; Produção: Paul Gregory; Argumento: James Agee [a partir de um livro de Davis Grubb]; Música: Walter Schumann; Fotografia: Stanley Cortez (preto e branco); Direcção Artística: Hilyard M. Brown; Montagem: Robert Golde; Director de Produção: Ruby Rosenberg; Cenários: Alfred E. Spencer; Figurinos: Jerry Bos; Caracterização: Don L. Cash; Efeitos Especiais: Louis DeWitt, Jack Rabin.

Elenco:

Robert Mitchum (Harry Powell), Shelley Winters (Willa Harper), Lillian Gish (Rachel Cooper), James Gleason (Birdie Steptoe), Evelyn Varden (Icey Spoon), Peter Graves (Ben Harper), Don Beddoe (Walt Spoon), Billy Chapin (John Harper), Sally Jane Bruce (Pearl Harper), Gloria Castillo (Ruby).

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