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Kiss me DeadlySinopse:

Uma mulher corre pela estrada à noite, fazendo despistar um carro na tentativa de o parar. O seu condutor é Mike Hammer (Ralph Meeker), detective privado, que lhe dá boleia, mas acaba raptado juntamente com a mulher, Christina (Cloris Leachman). Os dois são posteriormente colocados no carro e lançados por um precipício. Mike Hammer acorda no hospital, e decide-se a saber a verdade por detrás daquela história, mesmo com a polícia a ordenar-lhe que se mantenha afastado. Pelo caminho Mike encontrará um rasto de mortes, na busca de um segredo deixado por Christina que pode levar a algo de valioso.

Análise:

Em 1955 Robert Aldrich dirigiu e produziu “O Beijo Fatal”, a partir de uma história de um dos mais famosos escritores de novelas de detectives norte-americanos, Mickey Spillane. O filme não só se tornou um clássico Noir, como entrou para a iconografia de Hollywood, pela famosa cena da mala de conteúdo brilhante e desconhecido, que inspiraria por exemplo “Os Salteadores da Arca Perdida” (Raiders of the Lost Arc, 1981) de Steven Spielberg, e Pulp Fiction (Pulp Fiction, 1994) de Quentin Tarantino.

Interpretado por Ralph Meeker, o detective Mike Hammer é um típico anti-herói Noir, descrito como alguém que vive de chantagens em casos de divórcio, jogando pelos dois lados e forçando provas sem escúpulos. É-nos mostrado como dado à violência, com impulsos de algum sadismo, e pouco cuidado pelo bem estar dos amigos, que várias vezes coloca em risco (esta caracterização terá mesmo desgostado Mickey Spillane). A sua demanda é pessoal, tanto pelo lucro que lhe possa trazer, como pela curiosidade e orgulho em descobrir um enigma, para o qual foi arrastado sem escolha.

E é de um enigma que a história trata, começado na frase “Remember me” que surge como uma súplica de alguém que sabe ter o seu fim próximo. Esse lembrar, será o pecado de Mike Hammer, que tentará desbravar caminho, por entre uma encruzilhada de pistas, à boa maneira do duro detective Noir, imune à compaixão, e ao charme das mulheres que se lhe atravessam no caminho.

O enigma cedo se transforma numa espécie de caça ao tesouro, reminiscente de “Relíquia Macabra” (The Maltese Falcon, 1941) de John Huston, um dos primeiros Noir. Tal como nesse filme, também aqui o objecto das buscas, que a princípio se parece ter perdido, é o causador das várias mortes, tocando tragicamente todos no seu caminho. Mas se no filme citado as mortes eram causadas pela cobiça e crueldade dos perseguidores, em “O Beijo Fatal”, elas chegam a ser directamente causadas pela cobiçada mala.

A misteriosa mala, cujo conteúdo nunca vemos claramente, mas que é motivo para por ela se matar, é mais tarde explicado com uma referência ao Projecto Manhattan, que iniciou a corrida nuclear americana (o elemento nuclear é exclusivo do filme). Por isso o filme tem sido descrito como um reflexo da crescente paranóia das consequências da Guerra Fria, que então se começava a viver. Tal confere ao filme alguma modernidade e novidade, não só trazendo novos elementos dramáticos ao Noir, como usando-os alegoricamente, onde o “calor” da caixa, e os poderes nefastos que despoleta, podem ser tomados como uma alegoria para outros males. Tal é explicitamente dito no discurso do vilão Dr. Soberin (Albert Dekker) à inesperada mulher fatal, Carver (Gaby Rodgers), onde se invoca Pandora e a mulher de Lot, duas mulheres cuja curiosidade desencadeou males sobre a humanidade (a primeira) e a própria (a segunda).

A mulher volta assim a ser um símbolo de perdição para o homem do Noir. É uma mulher (Christina) quem arrasta Mike Hammer para a história. É uma mulher (Carver) quem o trai, e quem, abrindo a caixa causa a destruição final. E é por uma mulher (a colega e amante Velda) que Mike é alvejado e quase morto. Poderá ser a ameaça nuclear uma alegoria para o poder feminino? Tal explicaria o duplo sentido do beijo fatal.

Robert Aldrich, embora usando diversos elementos visuais do Noir, e influências expressionistas, acabou por realizar um filme onde o aspecto moderno está presente também visualmente, com diversos exteriores diurnos, e interiores sobriamente iluminados. A sua experiência de realizador televisivo transparece no aspecto mais ligeiro e imediato com que algumas sequências são montadas, talvez prenunciando já o caminho dos filmes de acção das décadas de 1960 e 1970.

Produção:

Título original: Kiss me Deadly; Produção: Parklane Pictures Inc.; Produtor Executivo: Victor Saville; País: EUA; Ano: 1955; Duração: 107 minutos; Distribuição: United Artists; Estreia: 18 de Maio de 1955 (EUA).

Equipa técnica:

Realização: Robert Aldrich; Produção: Robert Aldrich; Argumento: A.I. Bezzerides [a partir de uma história de Mickey Spillane]; Música: Frank Devol; Fotografia: Ernest Laszlo (preto e branco); Director de Produção: Jack R. Bern; Direcção Artística: William Glasgow; Cenários: Howard Bristol; Montagem: Michael Luciano; Caracterização: Bob Schiffer; Orquestração: Albert Harris.

Elenco:

Ralph Meeker (Mike Hammer), Albert Dekker (Dr. G.E. Soberin), Paul Stewart (Carl Evello), Juano Hernandez (Eddie Yeager), Wesley Addy (Tenente Pat Murphy), Marian Carr (Friday), Marjorie Bennett (Gerente), Mort Marshall (Ray Diker), Fortunio Bonanova (Carmen Trivago), Strother Martin (Harvey Wallace), Mady Comfort (Cantora do Clube), James McCallion (Horace), Robert Cornthwaite (Agente do FBI), Silvio Minciotti (Homem de Mudanças), Nick Dennis (Nick), Ben Morris (Voz na Rádio), Jack Elam (Charlie Max), Paul Richards (Atacante), Jesslyn Fax (Mulher de Horace), James Seay (Agente do FBI), Percy Helton (Doc Kennedy), Leigh Snowden (Cheesecake), Jack Lambert (Sugar Smallhouse), Jerry Zinneman (Sammy), Maxine Cooper (Velda Wickman), Cloris Leachman (Christina Bailey), Gaby Rodgers (Carver).

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