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To the Devil a DaughterDepois de um ano sem qualquer estreia, a Hammer produziria em 1976 “To the Devil a Daughter”, a partir de uma história de Dennis Weathley (autor de “The Devil Rides Out”). Peter Sykes dirigiu Christopher Lee, Richard Widmark e Nastassja Kinski, naquele que seria o último filme de horror da Hammer no século XX.

Sinopse:
Ao ser excomungado da Igreja Católica, o padre Michael, fiel à sua convicção, reafirma que não se arrependerá. Vinte anos depois, num mosteiro na Alemanha. A jovem freira Catherine, inicia mais uma viagem a Londres para ver o seu pai, o que faz anualmente no seu aniversário. Na Inglaterra, o escritor do oculto John Verney, está numa exposição quando é abordado por um desconhecido. A pedido deste, Verney vai ao aeroporto, e iludindo o acompanhante de Catherine, leva-a consigo, dizendo-se amigo de seu pai, Henry Beddows, o homem que o contactara. Henry é atacado em casa por um homem que procura Catherine e consegue matá-lo. Entretanto o padre Michael procede à preparação de um ritual para Margaret, uma das suas correlegionárias, dar à luz. Enquanto Margaret dá à luz, Catherine sente dores enormes durante o sono. Verney descobre que Catherine é afilhada do padre Michael, e pertence à seita “Children of the Lord” (Os Filhos do Senhor). Suspeitando que ela vá ser vítima de algum sacrifício, chama os amigos George e Eveline De Grass, para olharem por Catherine enquanto ele vai tentar descobrir mais sobre a seita. Telefonando a Henry Beddows, o padre Michael consegue manipulá-lo hipnoticamente, levando-o a dizer que a filha está com Verney. Beddows sempre soube que no décimo oitavo aniversário Catherine seria sacrificada pela seita, pois assistiu ao seu estranho baptismo no sangue da mãe morta de parto, e viu a alma desta dizer-lhe que cedeu Catherine à seita. Por isso agora tenta salvá-la. Através de magia, o padre Michael consegue manipular Catherine a colocar o símbolo da sua seita ao pescoço e fugir de casa. Mas Verney encontra-a e leva-a de volta. Interrogando Catherine, Verney fá-la contar do ritual orgiástico em que ela simbolizou ser a companheira do demónio Astaroth enquanto o padre Michael copulava com Margaret, como os portadores humanos da sua semente diabólica. Após falhar a manipulação à distância, o padre Michael telefona a John Verney que recusa ceder Catherine. Enquanto Verney investiga sobre Astaroth o padre Michael induz Catherine a fugir de novo, e esta mata Eveline. Verney e George procuram Henry Beddows, mas este só os ajudará, se lhe trouxerem o pacto que firmou com a seita. Ao chegarem à igreja indicada, surge-lhes a figura da mäe de Catherine que dá um medalhão que simboliza o pacto com o marido. George morre carbonizado ao tocá-lo, mas Veney resiste, e consegue levar o pacto a Henry Beddows, que lhe diz onde Catherine deverá estar, num antigo mausoléu. Catherine sonha que um estanho ser rasteja para entre as suas pernas e entra nela. No mausoléu, o padre Michael prepara um círculo mágico com sangue de outra correlegionária, e Verney aproxima-se sorrateiramente. Vê o padre Michael no circulo degolando um bebé, e ungindo Catherine com o sangue para a tornar um avatar de Astaroth. Verney ataca um guarda à pedrada e confronta o padre Michael. Este tenta Verney oferecendo-lhe o corpo de Catherine, mas Verney resiste, entra no círculo e usa a pedra suja de sangue para matar o padre Michael, libertando Catherine do transe.

Análise:
Após o sucesso do filme “The Devil Rides Out”, a Hammer voltou a usar uma história de Dennis Weathley, mas sem o mesmo resultado, levando o filme a ser renegado pelo autor. Novamente o tema foi o ocultismo e as seitas satânicas. Mas agora, em 1976, o gótico estava definitivamente enterrado, e “To the Devil a Daughter” surge como um filme moderno, seguindo os padrões recentes de filmes como o influente filme de Roman Polanski, “A Semente do Diabo” (“Rosemary’s Baby” de 1968), com que, de facto, é aparentado. Assim o resultado é um filme moderno, pouco baseado nos ambientes visuais típicos da Hammer, filmado nas ruas de Londres, ou em exteriores pastorais da Baviera, sem nada na paisagem que nos ameace ou sugira algo de mau. Christopher Lee surge como o Padre Michael Rayner, líder de uma seita satânica, num papel que lhe acenta perfeitamente, permitindo-lhe usar os seus atributos interpretativos para compôr um padre excomungado, cruel, frio, temível e determinado. No papel principal está, no entanto, John Verney, interpretado pelo conhecido actor norte-americano Richard Widmark, para maior apelo ao público internacional. Embora desempenhando o seu papel com segurança, falta à sua interpretação aquele fulgor visceral que se encontra em Peter Cushing, o que traz uma certa frieza à história, e nos faz suspeitar das intenções John Verney. Este de facto mais parece um detective amoral do Film Noir, ou um escritor à procura de mais uma história, que um paladino do bem. Finalmente, ainda como protagonista, está a jovem Catherine Beddows (Nastassja Kinski, então com 15 anos), uma freira destinada a um fim que não entende, mas que aceita sem questionar, num misto de inocência e servitude, que faz dela um peão. O argumento é bem montado, e a história apaixonante, cheia de momentos perturbadores. São exemplos os sonhos de Catherine, as cenas de violação ritual, os flashbacks referentes à mãe de Catherine, os inúmeros momentos em que o Padre Rayner usa da sua hipnose à distância para controlar os acontecimentos. Tudo isto traz ao filme uma atmosfera opressiva, de pesadelo, imersa num simbolismo onde o sangue e o nascimento desempenham um papel importante, e de paralelos bíblicos. O filme foi, no entanto, um fracasso, num momento em que o público do terror já procurava outras emoções mais fortes, como aquelas trazidas pelo filme “O Exorcista” de William Friedkin (1973). Era a despedida da Hammer Horror, sem pompa, mas ainda assim com um filme interessante e nalguns momentos perturbador.

Produção:
Título original: To the Devil a Daughter; Produção: Hammer Film Productions / Terra Filmkunst GMBH Berlin. País: Reino Unido / República Federal Alemã; Elstree Studios e República Federal Alemã; Ano: 1976; Duração: 94 minutos; Distribuição: EMI; Estreia: 4 de Março de 1976 (Inglaterra).

Equipa técnica:
Realização: Peter Sykes; Produção: Roy Skeggs; Argumento: Chris Wicking, adaptado por John Peacock, a partir do romance de Dennis Weathley; Música: Paul Glass; Supervisão Musical: Philip Martell; Fotografia: David Watkin (filmado em Technicolor); Direcção Artística: Don Picton; Montagem: John Trumper; Efeitos Especiais: Les Bowie; Caracterização: Eric Allwright e George Blackler; Guarda-roupa: Laura Nightingale.

Elenco:
Richard Widmark (John Verney), Christopher Lee (Padre Michael Rayner), Honor Blackman (Anna Fountain), Denholm Elliott (Henry Beddows), Michael Goodliffe (George De Grass), Nastassja Kinski (Catherine Beddows), Eva Maria Meineke (Eveline de Grass), Anthony Valentine (David), Derek Francis (O Bispo), Isabella Telezynska (Margaret), Constantine Gregory (Kollde), Anna Bentiink (Isabel), Irene Prador (Matrona Alemã), Brian Wilde (Empregado da Sala Negra), Petra Peters (Irmã Helle), William Ridoutt (Porteido do Aeroporto), Howard Goorney (Crítico), Frances de la Tour (Major do Exército de Salvação), Soe Hendry (Primeira Rapariga), Lindy Benson (Segunda Rapariga), Jo Peters (Terceira Rapariga), Bobby Sparrow (Quarta Rapariga).

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